quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Mídia, Poder e Ideologia no Brasil Contemporâneo

Segue abaixo um pouco da minha reflexão sobre o tema.

Trabalho de conclusão de módulo: Mídia, Poder e Ideologia no Brasil Contemporâneo da Pos de Sociologia Política - FACERES


Dentro de um histórico da construção da política nacional é muito difícil isolarmos poder, ideologia e mídia a partir de sua criação e da formação do relacionamento da população e formulação da estrutura de controle social.
Ao se aproximar da história contemporânea podemos notar isso com muita clareza, sobretudo durante o período da ditadura militar, onde o Brasil se envolveu em um contexto mundial da Guerra Fria, fazendo uso do poder ideológico e da necessidade da mídia, onde se iniciou um forte desenvolvimento da propaganda política, para defender o capitalismo ou o socialismo.
Quando o Brasil tomou uma posição em favorecimento à política norte-americana, houve a necessidade de o governo implantar uma abordagem através da propaganda política e ideológica, elaborar estruturas para convencer a população a adotar algumas idéias.
Assim desenvolveu-se uma forte tendência para que a população adote uma posição favorável ao capitalismo e promova, além disso, a “caça as bruxas”. Para propagandear o capitalismo, foi formada uma grande estrutura de mercado consumidor, abrindo o mercado de consumo para grandes indústrias norte-americanas venderem suas mercadorias e principalmente o seu modo de vida. A partir da propaganda política sobre o modo de vida capitalista, foram trazidas em conjunto regras sociais destinadas a formar uma estrutura moral.
E a mídia representou forte elemento com seu papel de criação. A partir desse contexto, pode-se analisar a importância da propaganda política e ideológica para os governos atuais, por que toda a proposta atual de propaganda política tem base e escola no que foi elaborado naquela época, o que diferencia são as técnicas de elaboração do trabalho.
Portanto, para iniciar a formação de uma estrutura social que era necessária para os governos militares, foi formulada uma ideologia de comando de massas, ou seja, houve a necessidade de incorporar um espírito social que favorecesse as classes dominantes, ou os interesses dos militares. E através da mídia, foram formadas as concepções sobre o regime militar, sobre a situação socioeconômica do Brasil, deixando as pessoas, muitas vezes, mal informadas.
Mas dentro deste trabalho da mídia, criava-se uma desinformação das pessoas através da própria mídia, não trabalhando os fatos e não noticiando o que realmente estava acontecendo. Assim, tendo uma verdadeira construção das noticias, fortalecia-se a idéia de que tudo estava bom.
Dessa forma, faziam que a população defendesse o país e, principalmente, abafava-se a ação dos subversivos, que acreditavam que a realidade vendida na grande mídia era mentira, nada mais do que uma construção política ideológica.
Sendo adotada no mundo contemporâneo uma prática semelhante, torna-se próxima de algo hereditário de fazer política, mas principalmente de noticiar política e formar opinião. Com a formação popular que se manifesta aceitando as noticias dos jornais que temos que focar nosso olhar. Assim o espírito crítico da sociedade é formado por jornais, sejam eles éticos ou não. E este trabalho mais do que falso, é aglutinador, prendendo a sociedade em uma realidade inexistente.
E quando o trabalho da mídia é criticado há uma grande negação, por isso Löwy afirma que as ideologias, utopias, as visões sociais de mundo têm um papel muito importante no processo de conhecimento da realidade. Portanto as ideologias que o governo queria que fossem formadas e expostas para a população, foram trabalhadas através da mídia, que divulgava o que era de seu interesse, criando para isso o próprio fato e os manipulando.
Mas através dessa discussão pode-se gerar dúvidas, por que um governo autoritário que praticava tortura (o que ainda é negado pelos militares até hoje) formaria uma estrutura ideológica através da mídia para controle da população? O que aconteceu foi a prática dos dois se completando.
Podemos analisar isso pela grande percepção que parte do governo militar teve em analisar o grande poder de controle da comunicação. E muito das práticas governamentais no Brasil tem uma continuação, seja ela de uma forma mais brutal ou não.
Com a chegada do governo democrático, isso não deixou de ser diferente, uma vez que muitas das práticas foram mantidas, assim como vários políticos permaneceram no poder.
Mas a comunicação teve uma grande evolução, e esta evolução foi poderosa, primeiro em suas estruturas de percepção do público, e em segundo, mas não com menos importância, no acompanhamento do desenvolvimento tecnológico. A propaganda ganhou vários meios de comunicação com diversas formas de abordagens e infinitas propostas de comunicação com a massa.
Com relação a isso, a respeito das tecnologias, hoje existe a cada dia uma nova proposta tecnológica, mas, independente do que surge, as antigas tecnologias permanecem um pouco pelo tamanho do desenvolvimento profissional que se encontra nos mecanismos de comunicação, mas principalmente pela desigualdade social, porque assim o alcance a essas tecnologias mais modernas não é total para toda a população, longe disso, ou seja, apenas a menor parte tem acesso.
Isso explica a necessidade que a propaganda tem de chegar pelo rádio, televisão, internet, e outros meios de comunicação, e em cada um deles de uma forma diferente.
E se tem hoje a necessidade de adequação com o público atual, a abordagem de propaganda hoje tem que adotar uma estratégia mais forte, buscando o interesse da população de uma forma mais direta, mas em alguns casos menos complexas, por que o público tem desinteresse pelas propostas complicadas. Aquelas que possuem uma vertente mais cômica, por outro lado, têm sido mais bem aceita.
O que nos preocupa é a formação de conceitos que a propaganda pode alcançar, quando dizemos que uma propaganda pode ser aceita ou não, vê-se também o quanto que esta propaganda se aproxima da cultura popular; então a partir disto, torna-se preocupante o quanto isso altera a cultura popular.
Isso porque quando temos a propaganda trabalhada para a população, encontramos uma propaganda que procura entender a cultura popular, mas quando esta propaganda manipula a cultura popular ela procura mudá-la.
Partindo agora para uma discussão sobre a inocência da população a respeito dos meios de comunicação – e considero esta inocência uma verdadeira ignorância – percebe-se que o senso crítico da população foi sendo desconstruído através das décadas de ditadura e pós-ditadura e que se tornou mais fácil manipular a população sobre os interesses de quem detém o poder, alcançado, assim, um maior poder de controle populacional, cultural e social. Junto disso foram elaboradas mudanças na educação nacional, como retirar o ensino de Sociologia e Filosofia da grade curricular, por serem disciplinas que aguçariam o senso critico dos estudantes, mas principalmente uma estrutura de educação bancária, onde trabalhos são trocados por nota, de modo que depositando seu ensino você retira a nota, e a adoção de cartilhas, que prendem a percepção criativa dos alunos para um sistema que premia aquele que decora ou copia mais melhor.
E qual o papel da mídia nesta desconstrução? Com o avanço tecnológico que aumentou o acesso aos meios de comunicação, da forma que já foi apresentado, foi através dele que finalizou a desconstrução da educação e a quebra cultural dos padrões brasileiros, introduzindo não só na propaganda estruturas de controle social, de uma forma subliminar ou escancarada mesmo, onde de fato alterou a cultura nacional, ou ainda somente trabalhando uma falsa realidade, onde Lazarsfeld aponta o que ele chama de mass media (mídia de massa) atribui status às causas públicas, às pessoas, às organizações e a movimentos sociais.
Dessa forma, muitas vezes o que está na mídia aparece como verdade ou realidade. Mas a opinião da mídia muda a realidade, interferindo na formação da opinião de muitas situações, sempre favorecendo o interesse político e econômico de alguns grupos sociais, alterando a ação social na massa, legitimando o que é proposto pela mídia, exercendo assim uma pressão sobre a massa para que esta adote o que esta sendo divulgado, mesmo que não tenha um consenso, mas trabalhando pela manutenção de sua proposta, e para controlar a moral e os bons costumes.
E quando demonstrada uma prática contrária para sua proposta, é apresentada de forma negativa, propondo para a massa que o que está sendo mostrado está errado como, por exemplo, as práticas do MST, favorecendo para a desconstrução das verdadeiras causas desse movimento.
A participação política da população tem sido cada vez menor e um dos motivos para que isso ocorra é o grande acesso a informação, distanciando as pessoas da ação política que fica limitada a participação nas eleições. E com essa grande quantidade de informação que a mídia está transmitindo, acaba formando na população um sentimento de que está bem informada e sem necessidade de participar, afinal, a mídia esta fazendo seu dever e mostrando o que está acontecendo, sem qualquer questionamento.
Com isso a mídia adquire o papel de controle e manipulação do sistema, como já foi dito, conseguindo cada vez mais também o controle da massa, por que além do fato de que quem detém o poder fica mais forte, parece que cada vez mais a realidade construída pela mídia e o sistema como está, torna-se coerente e certo para serem seguidos.
Com esses elementos construídos pela mídia, a massa fica cada vez mais dominada e as estruturas da propaganda política ficam cada vez mais fortes, o que explica os altos preços das propostas publicitárias, os altos custos das campanhas nas eleições e a grande receita reservada para a propaganda do governo, seja ela informativa ou não.
As propagandas políticas atuais demonstram um alto grau simbólico no que é mostrado, buscando se aproximar cada vez mais da massa (“Brasil um país de todos”), ou construindo o orgulho do progresso e a participação orgulhosa da massa, como é mostrado na campanha do Governo Estadual na construção do Rodoanel.
Esses valores simbólicos que estão nas propagandas trabalham muitas vezes no subconsciente das pessoas para alcançar os seus objetivos, o que faz parte hoje também da propaganda política.
E a construção da imagem dos políticos, seja em campanhas publicitárias ou em aparições publicas, trabalhando a imagem física e focando nas aparições públicas, as ações que serão praticadas durante a solenidade. Vemos muito este conceito na imagem do presidente Lula, no seu discurso e ações; a aproximação com o povo, onde utiliza de falas populares e de fácil entendimento, sem a presença de termos técnicos e muitas vezes a falta de coerência linguística.
Por outro lado vemos uma construção de imagem oposta no governador José Serra, em suas aparições publicas sempre se mostrando em alto grau de intelectualidade, participando de eventos culturais, onde faz questão de opinar sobre o que achou, como na divulgação da Virada Cultural Paulista, onde sempre diz ter sido idéia própria a implantação desse projeto. Em seus discursos, vemos uma fala refinada com termos técnicos e obedecendo a coerência linguística.
A respeito do discurso da mídia de ser detentora unânime da verdade e responsável por transmitir a verdade e contribuir com a democracia, é necessário saber, qual democracia? A mídia que defende interesse de grandes patrocinadores não pode ser uma mídia a favor da democracia, mas sim a favor do mercado e de uma minoria que o controla, uma vez que todos os dias ficamos sabendo das bolsas do mundo tudo, das estatísticas de vendas, de novos fundos de investimentos. Mas principalmente na contribuição sobre o consumo, com notícias sobre o controle de taxas de juros, aumento de créditos bancários e seus financiamentos. Uma mídia que noticia o alto grau de aceitação do governo, que enfoca a necessidade de consumo aclamada pelo presidente em tempo de crise mundial, está fortemente envolvida com seus patrocinadores e possui enorme interesse nessa união com o Estado.
Assim podemos afirmar que um dos grandes papéis da mídia atualmente é contribuir com a estrutura econômica do país, propagandeando os interesses políticos e ajudando a vender propostas de um mercado econômico favorável para a população e para o país, divulgando a idéia de que a política externa que o governo adota tem favorecido a economia. Mas também na propaganda da política interna, mostrando os grandes projetos do governo para crescimento e desenvolvimento do país e do povo, afinal o “Brasil um país de todos”.
Portanto hoje a mídia vem propagando uma ideologia do desenvolvimento da construção de um país melhor, mas isso não era feito também na ditadura. Por isso podemos afirmar que foram alteradas somente as técnicas de propaganda, por que os interesses serão sempre os mesmos, voltados para o governo e para os grupos que lideram a economia. E o povo continuará achando que sabe o que está acontecendo.

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