sábado, 5 de junho de 2010

Polícia Federal prende mãe e bebê Tupinambá


quando tentava retornar para sua aldeia, Glicéria ?
tendo ao colo o seu bebê de dois meses ? foi detida
ao descer do avião, ainda na pista de pouso do
aeroporto de Ilhéus (BA), e diante dos demais
passageiros, por três agentes da Polícia Federal,
numa intenção clara de constrangê-la.

Polícia Federal prende mãe e bebê Tupinambá

A Polícia Federal prendeu na tarde de hoje, feriado de
Corpus Christi, a índia Glicéria Tupinambá e seu filho de
apenas (02) dois meses. Glicéria é liderança de seu povo
e membro da Comissão Nacional de Política Indigenista
? CNPI. Vinculada ao Ministério da Justiça, a CNPI tem
entre seus integrantes representantes de 12 ministérios,
20 lideranças indígenas e dois representantes de
entidades indigenistas. Na tarde de ontem, 2 de junho,
Glicéria participou da reunião da CNPI com o Presidente
Lula, oportunidade em que denunciou as perseguições
de que as lideranças Tupinambá têm sido vítimas por
parte da Polícia Federal no Sul da Bahia.



No dia seguinte, quando tentava retornar para sua aldeia,
Glicéria ? tendo ao colo o seu bebê de dois meses ?
foi detida ao descer do avião, ainda na pista de pouso
do aeroporto de Ilhéus (BA), e diante dos demais
passageiros, por três agentes da Polícia Federal,
numa intenção clara de constrangê-la. O episódio
foi testemunhado por Luis Titiah, liderança Pataxó
Hã-hã-hãe, também membro da CNPI, que a acompanhava.



Após ser interrogada durante toda a tarde na sede
da Polícia Federal em Ilhéus, sempre com o bebê ao
colo, Glicéria recebeu voz de prisão da delega Denise
ao deixar as dependências do órgão. Segundo
informações ainda não confirmadas, a prisão foi
decretada pelo juiz Antonio Hygino, da Comarca
de Buerarema (BA), sob a alegação de Glicéria ter
participado no seqüestro de um veículo da META
(empresa que presta serviço de energia na região).
Esse juiz, em entrevista concedida ao repórter Fábio
Roberto para um jornal da região, se referiu aos
Tupinambá como ?pessoas que se dizem índios?.
Mãe e filho serão transferidos para um presídio na
cidade de Jequié, distante cerca de 200km de sua aldeia.



Desde que a FUNAI iniciou o processo de demarcação
da terra indígena Tupinambá as fazendas invasoras da
terra indígena passaram a contratar pistoleiros,
fazendeiros dos municípios de Ilhéus e Buerarema
iniciaram campanhas difamatórias nas rádios e jornais
locais, incitando a população regional contra os índios,
o que resultou numa série de conflitos envolvendo
pistoleiros, fazendeiros e indígenas. Como conseqüência
da disputa pela posse da terra os Tupinambá respondem
a uma série de inquéritos e processos criminais patrocinados
pela Polícia Federal, numa estratégia clara de criminalização
de sua luta legítima em defesa de seu território tradicional.
Em decorrência dessa ofensiva de criminalização já estão
presos os indígenas Rosivaldo (conhecido como cacique
Babau) e Givaldo, irmãos de Glicéria que passa a ser
terceira presa política Tupinambá.



A animosidade nutrida pela Polícia Federal em relação
aos Tupinambá já se tornou crônica. No dia 23 de
outubro de 2008, numa ação extremamente agressiva,
a PF atacou a comunidade indígena da Serra do Padeiro,
deixando 14 Tupinambá feridos à bala de borracha,
destruiu casas e veículos da comunidade, a escola
indígena e seus equipamentos, e ainda deteriorou a
merenda escolar. Dois Tupinambá foram presos na
ocasião. Em junho de 2009, após outra ação de
agentes da PF juntamente com fazendeiros - numa
ação de reintegração de posse -, sinais de tortura
em cinco Tupinambá ficaram comprovados por exames
de corpo de delito realizados no Instituto Médico Legal
do Distrito Federal. O inquérito, levado a cabo pelo
mesmo delegado que coordenou a ação dos agentes,
concluiu entretanto pela inocorrência de tortura.
Nenhum dos agentes foi afastado durante ou após
as investigações. No dia 10 de março de 2010, numa
ação irregular, a Polícia Federal invadiu a residência
do cacique Babau em horário noturno (duas horas da
madrugada), destruindo móveis e utilizando extrema
força física para imobilizar o Cacique, que acreditava
estar diante de pistoleiros, pois os agentes estavam
camuflados, com os rostos pintados de preto, não se
identificaram e não apresentaram mandado de prisão,
além de proferir ameaças e xingamentos.



O Conselho Indigenista Missionário, preocupado com
a integridade física e psicológica de Glicéria e seu filho,
vem a público manifestar mais uma vez o seu repúdio
ao tratamento dispensado por órgãos policiais e judiciais
ao Povo Tupinambá. Reafirma seu compromisso em
continuar apoiando a luta justa do povo pela demarcação
de seu território tradicional e conclama a sociedade
nacional e internacional a se manifestar em defesa da
causa Tupinambá e pela imediata libertação de seus líderes.



Brasília, 3 de junho de 2010.



Conselho Indigenista Missionário ? Cimi
fonte: CMI

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